Livro conta como é a experiência de contratar uma barriga de aluguel - Cabeça de Criança

Livro conta como é a experiência de contratar uma barriga de aluguel



Você já se perguntou como é passar pela experiência de ter outra mulher gerando um filho seu, e ainda por cima em um país distante? Parece enredo de novela, mas a história contada no livro “Minhas Duas Meninas” (Cia das Letras), da jornalista Teté Ribeiro, é bem real. A autora conta como foi a decisão dela e do marido de procurarem uma clínica na Índia para contratar um “útero de substituição” (o termo mais correto para barriga de aluguel).

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Teté e o marido tentaram ter um filho de todas as maneiras. Ela chegou a engravidar naturalmente em uma ocasião,mas a gestação não evoluiu. O casal tentou indução de ovulação, quatro inseminações artificiais e várias rodadas de fertilização in vitro, incluindo técnicas experimentais. Foram sete anos de tentativas frustradas, com o todo o desgaste emocional, físico e financeiro que esses tratamentos acarretam, mas o útero de Teté sofria de “falta de aderência”. Os embriões produzidos em laboratório eram saudáveis. Mas, implantados no útero da jornalista, não se desenvolviam.

Foi então que a jornalista soube, por um dos vários médicos pelos quais passou, que na Índia havia clínicas especializadas em úteros de substituição. E, assim, Teté e o marido optaram por essa maneira nada convencional de gerar descendentes.

A Índia, além de ter clínicas especializadas e renomadas, equipadas com alta tecnologia, oferece esse serviço a um preço bem mais baixo do que outros lugares onde esse método é permitido. Por lá, todo o procedimento de Teté custou US$ 31.500, enquanto que nos Estados Unidos, por exemplo, os valores começam em US$ 100 mil.

Minhas Duas Meninas.jpgNo livro, Teté conta de maneira emocionante e bem humorada como foi passar por todo o processo de tentar engravidar sem sucesso, como foi acompanhar a gestação de suas gêmeas à distância e a sua estadia na Índia, quando as meninas nasceram. A jornalista se programou para chegar à Índia antes do nascimento dos bebês. O marido seguiria depois. Mas a mãe de aluguel entrou em trabalho de parto antes do previsto e Teté foi surpreendida com a notícia de que suas filhas já haviam nascido depois que desembarcou no país.

“Era uma solidão absoluta, ao mesmo tempo testemunhada por pessoas que eu via pela primeira vez. Porque eu estava sem nenhum conhecido ao meu lado naquele momento? Quem ia me dizer que é assim mesmo, que a surpresa parece mais com um choque do que com qualquer manifestação de felicidade?”, diz Teté sobre o momento que antecedeu sua entrada na UTI neonatal para ver as filhas pela primeira vez.

Depois que tiveram alta do hospital, Teté, o marido e as bebês ainda ficaram no país por quase um mês, para que as crianças ganhassem peso o suficiente para receber o aval dos médicos para voarem de volta ao Brasil.

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Teté Ribeiro com o marido, Sérgio Dávila, e as bebês Cecília e Rita no hotel em Anand, Índia, onde ficaram por quase um mês esperando as meninas ganharem peso para voltarem ao Brasil

A jornalista também fala sobre a complexidade da sociedade indiana, com suas castas e rígidas relações familiares e matrimoniais, reflete sobre a condição da mulher naquele país e conta a história de Vanita, sua barriga de aluguel, e de outras moças que optaram por essa “profissão”. Na clínica escolhida por Teté, as mulheres que atuam como barrigas de aluguel ficam hospedadas todas juntas em uma casa, podendo receber visitas do marido e dos filhos, e recebem alimentação balanceadas, passam por diversos exames e podem frequentar cursos diversos. Ao final do processo, recebem cerca de US$ 8 mil.

Pode parecer duro ficar afastada da própria casa durante nove meses. Mas, em um país pobre onde o salário mínimo gira em torno de US$ 70 por mês, alugar o próprio útero pode significar uma mudança e tanto no nível de conforto da família. Com a quantia recebida, Vanita pagou dívidas e guardou dinheiro para garantir os estudos do filho.

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Teté Ribeiro e o marido, Sérgio Dávila, posam para foto com Vanita, sua barriga de aluguel, o marido Sandip e o filho Aarav, em um hotel na Índia

No Brasil
“O método de útero de substituição pode ser indicado nos casos de mulheres que precisaram remover o útero, quando há falhas na implantação do embrião no útero da mãe ou quando a mulher tem condições de saúde que tornam uma gestação arriscada, como cardiopatias, diabetes descontrolada ou transplante renal”, diz Patrícia Arie, médica da clínica de fertilidade Vivitá, em São Paulo. Também pode ser um método de reprodução para casais homossexuais masculinos.

Mas, diferentemente dos outros países já mencionados, aqui no Brasil não se pode contratar uma barriga de aluguel. O útero de substituição é permitido desde que a mãe que vai gestar o bebê seja parente próxima de um dos membros do casal (mãe, tia, prima ou irmã) e não receba nenhuma compensação financeira. Caso o casal não tenha alguma familiar que possa servir como barriga de aluguel, é possível pedir uma autorização na Justiça para que outra mulher ocupe esse papel.

Curiosidades
– A barriga de aluguel foi legalizada na Índia em 2002 e movimenta US$ 1 bilhão por ano.

– Um contrato detalhado e a legislação do país garantem que os país biológicos tenham total direito sobre o bebê. Não existe a possibilidade de a barriga de aluguel se arrepender e conseguir a guarda da criança. A legislação local também facilita o registro do bebê diretamente no nome dos pais biológicos. No Brasil, a criança é registrada primeiro no nome da mãe de aluguel. Depois o registro é transferido para os verdadeiros pais. 

– Na Índia, é proibido por lei que o médico revele o sexo do (s) bebês (s) durante os ultrassons que acompanham uma gestação, mesmo no caso de a mãe ser estrangeira. Isso acontece porque, nas classes média e baixa indianas, é comum o aborto provocado de bebês do sexo feminino.

– Algumas mães que contratam barriga de aluguel optam por não ter contato nenhum com a dona do útero de substituição. Mas, se ambas as partes desejarem, elas podem se encontrar onde e quando quiserem.

– Igualmente, a mãe “contratante” pode combinar com a barriga de aluguel que esta forneça leite materno para o bebê, em troca de um pagamento extra. A mãe que gestou a criança pode dar o peito para o bebê ou extrair o leite e mandar para o hotel dos pais biológicos.

– Há um projeto de lei, previsto para ser votado ainda em 2016, que, se aprovado, proibirá  estrangeiros e indianos expatriados de fazerem uso das barrigas de aluguel no país.

Fotos:
1 – Renato Parada / Divulgação
2 – Arquivo pessoal
3 – Arquivo pessoal

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